Brasil perde competitividade ao não acompanhar processo de automação mundial

Adriana Marotti de Mello aponta como falta de investimento em inovação e formação prejudica competitividade do País, que se ressente também de mão de obra especializada - (Jornal da USP no ar 1ª Edição)

Os serviços estão cada vez mais automatizados, com robôs e outras tecnologias assumindo partes ou a totalidade do trabalho antes feito pelas pessoas. Essa tendência de décadas se faz presente em setores para além da indústria, como as áreas de gestão e administração. “Esses processos já não são recentes, mas ganharam muito impulso nos últimos dez anos, principalmente nos países centrais, na Europa, nos Estados Unidos, por força até de políticas públicas que visavam ao retorno de atividades de manufatura a esses países”, explica Adriana Marotti de Mello, professora da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição

Devido ao alto custo do trabalho nesses países, no início dos anos 2000 muitas produções foram transferidas para países de menor custo, como a China, processo conhecido como offshoring. Diante dos problemas dessa dinâmica, esse retorno é a resposta da política Indústria 4.0, forte na Alemanha, que incentiva “a combinação dessas tecnologias de automação, de controle digital a distância, integradas via internet, [que] acabam dando uma competitividade maior a esses países”.

Perfil do trabalhador

Nesse contexto, o trabalhador precisa de uma formação específica. A mão de obra especializada é escassa no Brasil por falta de treinamento, como nas áreas de programação e Tecnologia da Informação (TI). “O Brasil foi pego no meio desse processo”, diz Adriana. O País não completou sua industrialização e já entrou num processo de desindustrialização nos últimos 30 anos. “Foi perdendo espaço para outros países por conta da falta de investimento em inovação, por falta de mão de obra qualificada, a concorrência mesmo com a China e outros países que acabam sendo mais competitivos em termos de custo.”


A educação é a chave para melhorar esse cenário, já desde os níveis básicos, num projeto de médio a longo prazo. “Não é só educação profissional, aquela qualificação imediata para tratar o trabalho”, afirma Adriana. “Mesmo no ensino fundamental, no ensino médio, a gente ainda tem taxas de evasão muito altas; a qualidade do ensino público, ainda que tenha sido universalizado nas últimas décadas, está muito aquém.”

Um exemplo dessa problemática é o serviço de portaria, sendo serviços o setor que mais emprega no Brasil. A princípio, o trabalho não exigiria muitos conhecimentos, mas, como há a tendência hoje de trocar o trabalhador por um serviço remoto de monitoramento por câmera informatizado, “você já passa a demandar daquele profissional [mais qualificação], além de reduzir a quantidade [de funcionários]”, conta Adriana.

 

 

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Fonte: Jornal da USP

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